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Café - Lavoura se adapta à pandemia no embalo da alta na demanda
Data: 26/5/2020

Tradicional região cafeeira de São Paulo, a Alta Mogiana deverá ver acentuar, em meio à pandemia do novo coronavírus, um fenômeno que já tem ocorrido nos últimos anos: a queda na migração de trabalhadores para a colheita.
Com as restrições de deslocamento e de aglomerações e o risco de contágio da Covid-19, a tendência, segundo o setor e especialistas, é que os cafeicultores contratem mão de obra local ou até mesmo acelerem a mecanização na safra que começa a ser colhida em algumas regiões do país ainda neste mês. Ou, ainda, que atrasem a colheita para evitar a disseminação do coronavírus.
Esse, porém, é apenas um dos retratos do agronegócio no país, que, até aqui, tem motivos para celebrar como a boa produção de soja, os preços atrativos do próprio café e a possibilidade de ampliar exportações de suco de laranja, tudo isso num momento em que o câmbio é altamente atrativo.
Se, há 20 anos, o total de migrantes para o café chegava a 30 mil no nordeste paulista e parte de Minas, a mecanização das lavouras e a mudança para outras atividades fizeram com que o número de trabalhadores fosse reduzido a cada ano.
Agora, a estimativa é que isso se acelere ainda mais e municípios no entorno de Franca empreguem menos de 15% dos migrantes de outrora, que deixavam principalmente o sul da Bahia e o Vale do Jequitinhonha (MG) em ônibus lotados para a chamada “panha do café” e dividiam alojamentos com dezenas de pessoas.
Com isso, e apesar do preço bom —entre R$ 560 e R$ 590 a saca de 60 quilos—, produtores de café arábica podem ter atrasos na safra, etapa mais intensiva em mão de obra e que dura de três a quatro meses.
Colômbia e Brasil, que produzem 65% desse café no mundo, precisarão de 1,25 milhão de pessoas para os trabalhos, segundo associações de produtores, que estão preocupadas com a reunião de empregados.
“Eu vou começar com menos pessoas que o normal, nós poderemos ir mais devagar no começo”, disse o produtor Paulo Armelin, de Minas Gerais, fornecedor regular da italiana Illy.
Segundo a OIC (Organização Internacional do Café), a produção global de café arábica deve ser de 102,7 milhões de sacas, das quais 55,5 milhões são do Brasil. A Colômbia responde por 15,5 milhões de sacas.
De acordo com o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, além de contratar menos, os produtores estão tentando espaçar os funcionários nos alojamentos.
“O que mais preocupa é o processo de deslocamento da cidade para o campo. Na lavoura em si, não fica um do lado do outro. A colheita usará mais mão de obra local por causa das restrições de deslocamento.”
Com as regras que o setor recebeu, Ricardo Lima de Andrade, superintendente comercial da Cocapec (cooperativa de Franca), disse acreditar que, se não usar mão de obra local, o cafeicultor partirá para mecanizar o que for possível.
“A pandemia fará com que se desenvolva metodologia para colher de forma mecanizada, até para evitar a circulação de pessoas no interior do Brasil.” Em média, cada empregado contratado para a colheita recebe R$ 1.500.
Já entre os produtores de grãos, a preocupação se mantém mais com o clima e outras condições adversas do que com a pandemia. Os protocolos de segurança se restringem, em geral, ao uso de máscaras e álcool em gel por quem está envolvido nas cadeias de produção, já que a própria dinâmica das áreas auxilia nas medidas protetivas.
“O risco maior seria o contato entre pessoas, mas, ao ar livre e com distanciamento, o produtor consegue conversar com técnicos e funcionários, e isso acaba protegendo a todos”, disse Haroldo Polizel, superintendente-geral da Integrada, cooperativa com sede em Londrina que reúne cerca de 10 mil produtores em 49 municípios de Paraná e São Paulo.
Ainda assim, as visitas de pessoal externo às terras têm se restringido a emergências.
Mesmo com as condições desfavoráveis, principalmente pela estiagem, a safra 2019/20 de soja no Paraná bateu recordes. Segundo estimativa do Departamento de Economia Rural do Paraná, são 20,7 milhões de toneladas no mercado, quase 1 milhão a mais que a safra 2016/17, até então a maior.
Dono de uma propriedade de 500 hectares em Moreira Sales (PR), Marcio Bonesi contou que recentemente recebeu na área um técnico de uma multinacional. Dias depois, o agricultor soube que o funcionário foi notificado pela empresa, que tem usado o rastreamento de veículos para evitar contatos desnecessários. “A visita, que era mensal, não vai ser mais”, disse.
Como grande parte de produtores de grãos, ele já colheu entre março e abril suas cerca de 31.500 sacas de soja e emendou na plantação de milho, em fase de crescimento. Com isso, disse que a fase de maior “movimento”, com grande fluxo de colheitadeiras e caminhões, escapou do ponto mais crítico da pandemia.
Nesta nova etapa das propriedades, com a entrada do milho —cuja produção está com baixa estimativa, graças também à estiagem—, estão sendo tomados outros tipos de medida no recebimento de inseticidas e adubos.
“Ou seja, o que foi afetado é o processo, que está acontecendo de forma mais lenta, com a baixa dos colaboradores que são do grupo de risco e as diversas medidas de segurança nas entradas de propriedades”, disse Geomar Corassa, gerente de pesquisa e tecnologia da Cooperativa Central Gaúcha, com 171 mil produtores no Rio Grande do Sul.
Nas cooperativas, geralmente com grande quantidade de funcionários, quem pode está trabalhando de casa. Com cerca de 140 associados da região, a Coopa, do Distrito Federal, está funcionando com 30% do efetivo presencial, em rodízio, como nas balanças e no recebimento e despacho de cargas.
O novo jeito de trabalhar tem levado produtores a procurar soluções pela internet.
“Já havia uma tendência de aumento do uso de tecnologias digitais no campo, principalmente pela chegada de uma nova geração, mas a pandemia fez isso acelerar”, afirmou Corassa.
Ele ressalta, de outro lado, que uma das áreas do campo mais afetadas pelo novo coronavírus é a de pesquisas, essencial para desenvolver soluções para os produtores, como no combate de pragas.
“A gente não sabe o que vai ser daqui para a frente, então fica complicado assumir um experimento, por exemplo, e garantir a sua condução.”
Com a laranja, a expectativa é de, em algum momento, o mercado nacional exportar mais suco para os EUA, cujo mercado cresceu 40% na pandemia.
“O suco tem vivido febre de consumo, em razão da vitamina C e também pelo fato de, com o confinamento das pessoas em casas, o hábito do café da manhã ter sido retomado pelas famílias. Quando você olha o balanço da Kelloggs, por exemplo, verá que ela teve alta de 8% nas vendas impulsionado por março [quando já havia isolamento]”, disse Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Citrus-BR.
O cenário só não tem reflexo imediato nos Estados Unidos, segundo ele, devido aos estoques do país, o maior em cinco anos. “Mas o aumento do consumo ajuda a queimar mais rápido esse estoque, o que a médio prazo vai ser bom. O suco de laranja foi apresentado para uma geração de consumidores, pessoas que não tinham o hábito de beber e passaram a ter.”
Ainda segundo ele, o fato de o setor seguir normalmente em meio à crise econômica no país é uma “bênção”.

Fonte: Folha de São Paulo
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